A ex-Big Brother, que já foi babá, manicure e balconista


A ex-Big Brother, que já foi babá, manicure e balconista, confessa que sofre com a solidão e fala da luta diária para provar que seu talento não é fogo de palha.

Alta madrugada, Grazielli Massafera entra em casa com a coroa e a faixa que havia acabado de conquistar num concurso de beleza. O avô, que não tinha pregado o olho à espera do resultado, abraça-a sem conter o choro de orgulho; parecia prever o futuro de sucesso da neta. A cena se repetiu inúmeras vezes desde os 14 anos de Grazi, a menina que, como o Brasil inteiro sabe, saiu de Jacarezinho, cidade de 40 mil habitantes no interior do Paraná, e ficou famosa da noite para o dia. Ela se recorda especialmente da vez em que venceu um campeonato de vôlei e surgiu de medalha e joelheiras para que ele pudesse vê-la vitoriosa. "Era meu fã número 1. Tenho pensado muito nele, em como queria que estivesse aqui para testemunhar o que aconteceu na minha vida", conta, emocionada.
A história de Grazielli, 25 anos, parece fábula. A gata borralheira, que tinha sido babá, manicure e balconista de uma loja de cosméticos, conquistou o Brasil participando do BIG BROTHER BRASIL 5, em 2005. Esperta, soube avaliar que o segundo lugar no reality show seria a maior oportunidade de sua vida e fez de tudo para não ser esquecida. Estima-se que, no rastro do BBB, cada aparição sua num evento lhe rendeu o cachê de 15 mil reais, sem falar no que teria em bolsado para posar nua para a PLAYBOY. Graças a isso, pôde comprar uma casa de três andares na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e a mãe, Cleuza Soares, 46 anos, não trabalha mais como costureira. "Não vou negar: comecei pelo dinheiro. Mas passei a gostar do que faço", garante.

Na manhã ensolarada da entrevista para esta reportagem, Grazi comemorava a renovação de dois grandes contratos publicitários. Além da grana, ela também gosta de visibilidade. "Adoro sair maquiada: as pessoas me reconhecem, querem tirar fotos", diz. Naquele dia, o amor também ia muito bem. A atriz acabara de sair dos braços do namorado, Cauã Reymond, o Lucas de ETERNA MAGIA, novela das 6 da Globo. É o primeiro romance desde o fim do relacionamento de dois anos com Alan dos Santos, engatado diante das câmeras do BBB. "Cauã está de folga, mas eu preciso trabalhar. Como ele também é de TV e tem muitos compromissos, entende que eu esteja longe." No tempo livre, o casal sai para jantar, às vezes com a família toda de Grazi, que sempre a visita no Rio. "Não tenho limites financeiros com comida. Geladeira vazia nunca mais, curto vê-los comer bem", revela.
À direita Grazi e Alan: o namoro começou diante das câmeras do BBB, e à esquerda, pouco tempo livre, mas amor intenso com Cauã

E houve momentos de geladeira quase vazia. Os pais da moça foram bóias-frias no interior do Paraná, e o dinheiro era curto. Ela tem um irmão desse casamento, outro por parte de pai e um caçula por parte de mãe. Aos 14 anos, arrumou o primeiro emprego - para ajudar Cleuza, que havia se separado do marido cinco anos antes. "Eu era muito magrinha. Os patrões sempre achavam que não daria conta do recado. O dono da perfumaria chegou a dizer que eu não conseguiria lavar o banheiro depois do expediente." Nem por isso Grazi deixou de ser moleca: subia em árvore e comia fruta no pomar do vizinho. "Aprontei muito na infância. Passava as férias na casa do meu pai, perto da praia, e só saía do mar à noite. Parecia um peixe." Pendurava prendedores de roupa nas orelhas - fingia que eram brincos - e desfilava pela casa. Aos 7 anos, começou a participar de concursos, impulsionada pela mãe. Miss Boneca Viva, aos 8 anos, foi o primeiro de uma série de títulos. "Venci tantos concursos de beleza em rodeios que me proibiram de competir. Para parecer mais encorpada, usava um truque: enchia as roupas de espuma."

Grazi ainda luta muito para aceitar o próprio corpo. "Minhas pernas são finas e tortas. Comecei a malhar para desfilar no Carnaval passado e vi resultado: meu bumbum aumentou. Mas posso melhorar mais." A falta de autoconfiança quase a derrubou anos atrás. Em 2000, como não se classificou no concurso Miss Paraná, enfiou na cabeça que o seu destino era ganhar o salário mínimo no balcão da loja de cosméticos. "Grazi pensava em desistir, e isso me irritava, pois sabia que ela queria ser alguém", recorda a mãe. "Briguei muito com minha filha, mas, se pegasse mais leve, ela não teria chegado aonde chegou." Graças à insistência de Cleuza e de uma amiga, ela disputou e venceu o concurso de 2003. Defendeu o Paraná no Miss Brasil 2004, ficando em terceiro lugar, e foi representar o país no Miss Beleza Internacional, na China. "Para ter mais chances, ganhei silicone nos seios e adorei!" Voltou sem o título, mas contou com novo incentivo da mãe e de colegas para se inscrever no BBB5. Elas gravaram, com uma câmera emprestada, um vídeo em que Grazi exibia as faixas dos concursos que ganhara e malhava numa academia. Foi selecionada.


No ar, o sotaque carregado e a simplicidade encantaram marmanjos e mulheres. Elas, em especial, se identificaram com a paranaense: Grazi é como milhares de brasileiras que rezam para que um golpe de sorte as faça aparecer aos olhos da multidão - e vencer na vida. Desde então, sua carreira de celebridade anda a mil. Participou de programas da Globo, como ZORRA TOTAL e A TURMA DO DIDI, foi repórter do CALDEIRÃO DO HUCK e atuou no filme DIDI, O CAÇADOR DE TESOUROS. Mas ainda não estava convencida de que podia ser uma atriz de verdade, afinal nunca havia ido ao teatro ou lido um livro até o fim.

Em 2006, desconfiou do convite para trabalhar em PÁGINAS DA VIDA, novela de Manoel Carlos, e não se dedicou como deveria à oficina de atores da Globo. "Achei que era fogo de palha e que, na hora H, escolheriam outra para interpretar a ingênua Telminha", explica. Grazi, imediatista - outro ponto a seu favor e que a faz tão próxima das mulheres da sua geração -, preferiu viajar e ganhar dinheiro com eventos. "Pensei: tenho que aproveitar enquanto o público se lembra de mim. Se ficar presa na oficina, vou perder outras oportunidades." Mas seu carisma já tinha corrido os corredores da TV, e ela foi convocada para a reunião de elenco. Só então decidiu se entregar às aulas de interpretação, mitologia, expressão corporal, texto e voz. "Senti dor de cabeça de tanto estudar. Descobri os textos de Nelson Rodrigues e passei a ver filmes clássicos com outros olhos, prestando atenção no trabalho do diretor, em como ele resolvia as cenas."

Ela se dedicava à oficina, no Rio, e continuava gravando publicidade nos fins de semana, em São Paulo. O ritmo acelerado, somado à alimentação incorreta, atropelou a saúde. O resultado foi uma infecção estomacal, fraqueza e angústia. "No interior, a gente acha que povo de novela não trabalha. A verdade é que você tem que se esforçar muito", confessa. "Fico tão concentrada que me sinto sozinha. Tenho saudade da minha família, da minha cidade. No começo, meus amigos de Jacarezinho se afastaram acreditando que a fama ia mudar meu comportamento. Hoje viram que isso não aconteceu."


A pressão da estréia em horário nobre deixou a iniciante confusa, com medo de se sair mal. "Pensei em largar tudo. Mas vi que muita gente apostava em mim e resolvi me dar essa chance. Afinal, precisava ter uma profissão." Ela ainda se descreve como uma "pessoa diminuída" por não ter feito faculdade. "No dia em que puder dizer: Sou uma atriz', vou fazer isso de boca cheia. Darei uma festa de tanta felicidade", conta, rindo. Por essa razão, escutou atenta os conselhos de colegas de PÁGINAS DA VIDA, como Tarcísio Meira. Mas nem todo o elenco a viu com bons olhos: "No mundo da novela, é salve-se quem puder', cada um se preocupa com o seu. A inveja aumenta num ambiente de vaidade. Agora conheço as coisas, tenho a intuição aguçada e me protejo com sal grosso. Se a urucubaca está pesada, jogo do pescoço para baixo".
Aos poucos, Grazi foi perdendo a ingenuidade e acumulando experiências. Mesmo assim, não esconde o nervosismo diante do próximo desafio: interpretar Florinda em MILAGRE DE AMOR, novela das 6 que estréia no final de outubro. Mimada, ambiciosa e doida para casar, Florinda é filha de Viriato, personagem de Lima Duarte - mais uma oportunidade para aprender com quem entende do assunto. "É a prova final, vou saber se sou mesmo atriz ou não", decreta. Se depender de Walther Negrão, autor da novela, não há dúvidas: "Fiquei impressionado com o crescimento da Grazi, sua desenvoltura e beleza. É uma estrela. Seu brilho é inegável".


ARREPENDIMENTO - Ter recusado o convite para ser modelo no Chile com medo de sentir saudade de casa.? FALTA DE TEMPO - Há três anos moro no Rio e não conheço o Cristo Redentor.? FÉ - Guardo a BÍBLIA no quarto. Leio quando estou vulnerável.? LEMBRANÇA - Entrei no mar pela primeira vez aos 5 anos. Guardei a foto: perninha torta e barriga estufada de vermes...? PLANO B - Ser veterinária.? DESEJO - Andar pelas ruas de Jacarezinho e abraçar os amigos.? ROTINA - Tenho empregada, mas já lavei roupa para me distrair. Vou ao banco pagar minhas contas.? IRMÃZONA - Jogo bola na praia e vou ao circo com Alexandre, meu irmãozinho, de 6 anos.? FRALDAS - Quero ter três filhos. Mas só depois de me garantir como atriz de verdade.

Fonte:Claudia.abril.com.br

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